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27 de Abril de 2024
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    Como identificar o cérebro de um assassino

    Publicado por Folha Online
    há 11 anos

    TIM ADAMS

    DO "OBSERVER"

    Em 1987, Adrian Raine, que se descreve como um neurocriminalista, mudou-se da Grã-Bretanha para os Estados Unidos. Duas coisas motivaram essa migração. A primeira foi a sensação de estar dando cabeçadas numa parede. Raine, que cresceu em Darlington e hoje é professor da Universidade da Pensilvânia, pesquisava a base biológica do comportamento criminoso, o que, ecoando a eugenia nazista, era talvez o maior tabu de todas as disciplinas acadêmicas.

    Na Grã-Bretanha, só se admitia que a criminalidade tivesse causas sociais e ambientais, como resultado de uma educação perturbada ou miserável, em vez de ser um destino genético. Sugerir o contrário, como Raine sentia-se compelido a fazer, tendo sido aluno de Richard Dawkins e se convencido da "influência completa da evolução sobre o comportamento", era se condenar à ausência de financiamento.

    Nos EUA, parecia haver mais abertura a essa questão e, consequentemente, mais dinheiro para explorá-la. Havia também outra boa razão pela qual Raine se dirigiu inicialmente para a Califórnia: havia mais assassinos para estudar do que na sua terra.

    Quando Raine começou a fazer tomografias cerebrais de homicidas em prisões americanas, ele estava entre os primeiros pesquisadores a aplicarem a ciência dos exames cerebrais por imagem à criminalidade violenta. Seu estudo mais abrangente, em 1994, foi ainda necessariamente com uma amostra pequena. Ele conduziu exames de tomografia por emissão de pósitrons (PET) em 41 assassinos condenados, e os comparou com um grupo de controle "normal" que tinha 41 pessoas com idades e perfis semelhantes.

    Por mais limitado que fosse o controle, as imagens coloridas, que mostravam a atividade metabólica em diferentes partes do cérebro, pareciam comparativamente surpreendentes. Os cérebros dos homicidas demonstravam, em especial, o que parecia ser uma redução significativa no desenvolvimento do córtex pré-frontal, a "função executiva" do cérebro, em comparação ao grupo de controle.

    Os avanços no entendimento da neurociência sugeriram que tal deficiência resultaria em uma maior propensão a diversos comportamentos: menor controle sobre o sistema límbico, que gera emoções primais como a raiva; maior risco de dependências; redução do autocontrole; e dificuldades para a solução de problemas --todos eles fatores que podem predispor a pessoa à violência.

    Mesmo há duas décadas, no entanto, essas eram conclusões difíceis de publicar. Quando Raine apresentou um estudo bem menos polêmico a uma revisão por pares, em 1994, mostrando que uma combinação de complicações no parto e de rejeição materna a recém-nascidos tinha correlação significativa com o fato de os indivíduos se tornarem criminosos violentos 18 anos depois, o trabalho foi denunciado como sendo "racista e ideologicamente motivado". Para a revista "Nature", isso era simplesmente mais uma prova de que "o alarido em torno das tentativas de encontrar causas biológicas para problemas sociais irá continuar".

    Da mesma forma, há 15 anos, a pedido do seu amigo Jonathan Kellerman, psicólogo infantil e escritor policial, Raine montou uma proposta para um livro a respeito de algumas descobertas cientificas suas, mas nenhuma editora quis chegar nem perto. Aquele livro, "The Anatomy of Violence" [A anatomia da violência], um relato equilibrado, baseado em evidências e cuidadosamente provocativo sobre os 35 anos de estudos de Raine, só agora foi lançado.

    A razão para essa demora parece radicar em inimizades ideológicas. Apesar de todo o rigor de Raine, sua disciplina de "neurocriminalística" continua manchada, para alguns, pela associação com a frenologia do século 19, a crença de que o comportamento criminoso deriva de uma organização cerebral defeituosa, que seria evidenciada pelo formato do crânio.

    A ideia foi inicialmente proposta pelo tristemente famoso Franz Joseph Gall, que dizia ter identificado "órgãos" cerebrais atrofiados ou hipe...

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    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/como-identificar-o-cerebro-de-um-assassino/100540383

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