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8 de Maio de 2024

Leia a transcrição da sabatina com Aécio Neves

Publicado por Folha Online
há 10 anos

O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, afirmou nesta quarta (16) que, se for eleito, irá manter e "aprimorar" programas sociais que "vêm dando certo", como o Bolsa Família. Em relação ao Mais Médicos, vitrine do PT na área da saúde, prometeu rever normas para igualar os salários dos profissionais estrangeiros. Para isso, precisaria romper e renegociar as regras atuais, já que os profissionais de Cuba, que são maioria, recebem apenas parte do valor pago pelo governo –o Estado cubano fica com o restante.

Em sabatina realizada pela Folha, UOL, SBT e rádio Jovem Pan, Aécio admitiu ainda rediscutir o modelo adotado para explorar o petróleo do pré-sal.

Acesse a página especial da sabatina da Folha com Aécio Neves

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Ricardo Balthazar (Folha) - Eu queria começar com uma pergunta sobre o seu programa de governo. Em um jantar com empresários há algum tempo atrás, o senhor disse que estaria preparado para tomar medidas impopulares, se necessário, arrumar a economia, se for preciso, sem demora. Mas o senhor até agora não indicou com muita clareza que medidas seriam essas. Então, queria aproveitar essa oportunidade para explorar alguns temas com o senhor. Por exemplo, o caso da previdência social, que tem um déficit crescente e até mencionada no seu programa de governo. O senhor diz ali que, basicamente, tudo vai se resolver com o crescimento da economia. Mas os especialistas apontam várias distorções que têm contribuído para aumentar os gastos da previdência.
Vou citar apenas duas e queria saber a opinião do senhor. Idade mínima: no Brasil você não tem um teto, um limite de idade mínima, as pessoas podem aposentar com 50 e poucos anos, ganhar aposentadoria do governo em idade ativa. E muitas pessoas também ganham pensão por morte, embora estejam jovens e ativas, e ganham pensão do governo mesmo assim. O senhor vai fazer alguma coisa pra corrigir essas distorções?
Aécio Neves - Quero agradecer a você Balthazar, aos jornalistas que participam desse encontro, essa plateia extremamente qualificada que veio aqui nos ouvir e vou responder de forma bastante objetiva. O que eu disse, não apenas nesse jantar, mas em todos os encontros dos quais eu tenho participado, que eu vou tomar as medidas necessárias pra recolocar o Brasil no rumo do crescimento sustentável, com controle da inflação e com ampliação e melhoria dos nossos indicadores sociais. As medidas impopulares, o mal, tá sendo feito por esse governo. O Brasil vive hoje um processo de "estaginflação" absolutamente claro. Crescimento fraco, PIB pífio, nós cresceremos menos que todos os nossos vizinhos, na nossa região 1% esse ano, com inflação no teto da meta, já ultrapassando do teto da teta, inflação desses últimos 12 meses já ultrapassa o teto da meta e sem que o governo não acene de forma absolutamente clara em relação a medidas que tomaria no futuro pra reverter esse quadro extremamente perverso. Vocês certamente acompanharam as diretrizes do nosso programa de governo e ali cita alguns dos seus pontos, e nós tomamos o cuidado de fazer um trabalho extremamente amplo. Ouvindo setores dos mais diversos da sociedade brasileira, sem dúvida alguma as nossas diretrizes aprofundaram a níveis que não são comuns na história eleitoral brasileira e eu acredito firmemente que nós vamos encontrar o caminho da retomada do crescimento da nossa economia a partir do resgate da falta de credibilidade que existe hoje. O Brasil vive um processo de perda crescente da credibilidade. Portanto, resgatar a credibilidade dos investidores, com a política fiscal absolutamente transparente e, ao mesmo tempo, austera. Pode ser o caminho, o prenúncio do início de um novo ciclo no Brasil. Em relação objetivamente à questão previdenciária, eu participei, enquanto governador de Estado, de pelo menos seis reuniões com o então presidente da República, ao lado de inúmeros outros governadores de Estado, discutindo o tema previdência. E estabelecemos um caminho, novas regras para aqueles que entrem no setor público. O que não se pode fazer é cortar direitos adquiridos, até porque do ponto de vista legal, isso é impossível. Mas novas regras para o futuro devem e serão discutidas à luz do dia. Mas, obviamente, com a legitimidade de quem vier a ganhar as eleições.

Josias de Souza (UOL) - Quais regras especificamente, senador?
Novas regras terão que ser discutidas. Aqui citou-se um exemplo, essas aposentadorias, essas pensões por morte. Há um certo exagero nisso. É uma delas. Terá que ser discutido com a sociedade. Não é assim imposto por um governo. Eu acho que qualquer governo responsável terá que discutir, fazer essa reforma. Mas um conjunto de reformas que foram sucessivamente adiadas por esse governo. Na verdade, as últimas grandes reformas que ocorreram no Brasil ocorreram no governo do presidente Fernando Henrique. De lá pra ca, houve o adiamento sucessivo dessas reformas por uma razão, Balthazar. Sempre que o governo encontrava um contencioso, sempre que o governo percebia que isso contrariava algum dos seus núcleos de apoio ou simpatizantes, essas propostas eram arquivadas. Isso ocorreu com a tributária, com a previdenciária, com a reforma política, com a própria reforma do Estado brasileiro. Essa conjunção de fatores, essa incapacidade do governo de ter um protagonismo na construção dessa agenda certamente ajudou com que chegássemos até aqui.

Ricardo Balthazar - E essa questão da idade mínima? O senhor acha que está na hora de fixar idade mínima para aposentados no setor privado, assim como em outros países?
Não temos decisão em relação a isso, sinceramente não temos. Essa discussão vai ocorrer no tempo certo.

Josias de Souza - O senhor disse que o programa foi aprofundado de maneira inédita, né. Há muita coisa hermética no vosso programa de governo, se me permite dizer. Há uma tese segundo a qual, os economistas costumam mencionar isso, queria saber se o senhor concorda que numa situação como a que nós estamos hoje, é um prenúncio de ajustes que são necessários, a situação pode piorar antes de melhorar. E os candidatos, de maneira geral, o senhor especificamente, tem acenado com os ajustes, vamos fazer os ajustes, mas o senhor tem omitido essa fase da piora momentânea que terá que ocorrer antes que a situação melhore. Além desses ajustes previdenciários, há tarifas que estão represadas, que vão precisar ser incorporadas aos preços das tarifas públicas. E há uma intenção sua de elevar a taxa de economia que o governo faz para pagar a sua dívida, o superávit fiscal. De onde o senhor vai cortar para elevar o superávit? E o senhor concorda com a tese de que vai piorar antes de melhorar?
São duas partes. Primeiro, apenas para que fique muito claro, nós não apresentamos o programa de governo. Apresentamos diretrizes de governo. E essas diretrizes nossas foram extremamente aprofundadas, repito o que disse inicialmente. E é fácil, é só comparar com tantas outras que foram apresentadas, tanto no passado, elas chegam a um nível de detalhamento, a um conjunto de intenções e apontando até mesmo caminhos, o que não é comum na história eleitoral brasileira. Enfim, fiz isso de forma proposital. Acho importante que as pessoas antecipadamente conheçam que caminho qual candidato, se vencer as eleições, ou eventualmente vencendo as eleições vai percorrer. Eu não acredito que, com a nossa vitória, e vou falar de forma absolutamente franca, haverá uma piora. Haverá uma melhora. Porque a economia, Josias, é expectativa. Economia é perspectiva. Inflação também é perspectiva. Eu volto um pouco no tempo, vocês se lembrarão e concordarão comigo. Em 2002, quando houve a vitória do presidente Lula, pela incerteza que aquela vitória gerava naquele instante no país, nós tivemos uma explosão dos índices inflacionários, o dólar também subiu e houve uma insegurança tão grande que foi depois, de alguma forma, contida pelo presidente Lula ao desconhecer o seu discurso de campanha, manter inalterados os pilares macroeconômicos que herdou do governo Fernando Henrique. Metas de inflação, câmbio flutuante, superávit primário, ainda na era Palocci e trouxe novamente segurança aos mercados. Uma vitória do PSDB gerará um efeito inverso. Estou absolutamente convencido disso, essa avaliação tem sido feita por nós, não apenas internamente mas inclusive com analistas de fora do Brasil. Pela clareza das nossas convicções, pelo histórico daqueles que estão ao nosso lado. Não é imperceptível aos brasileiros que eu tenho deixado claro que tenho algumas figuras que estão ao nosso lado na construção, vamos chamar, desse arcabouço de programa econômico. E é exatamente esse cenário de resgate da credibilidade, de uma política fiscal absolutamente transparente, de combate à inflação focada no centro da meta, tudo isso, acredito eu, gerará um ambiente propício para que nós possamos efetivamente encontrar sim caminhos para termos um superávit, não como vem existindo, de forma, eu diria até, entre aspas, "fraudada". Porque eles são obtidos com receitas que não são recorrentes, como aconteceu no ano passado. Nós tivemos um superávit de 1,9%. Metade disso foi a soma de refis e libra. E você colocar aí um 0,3% de adiamento de despesas do governo do ano de 2013 para esse ano. O que nós queremos são regras claras. Para que as pessoas percebam, lá na frente, qual o ambiente que nós estamos construindo. Porque, como o governo agiu até aqui, sobretudo em relação à questão inflacionária, acho que com absoluta leniência, ele na verdade estimula a inflação futura. Há uma inflação represada hoje. Porque nós sabemos, além dos preços represados, nós temos inflação de alimentos, Josias, já tá há mais de um ano em mais de dois dígitos nas regiões metropolitanas do país.

Ou senhor corta ou o senhor aumenta impostos.
Ou eu cresço. Ou eu cresço. E eu vou no caminho do crescimento.

Kennedy Alencar (SBT) - O Brasil nos últimos anos tem convivido com uma taxa de crescimento baixa e uma inflação alta. O senhor falou que tomaria medidas impopulares se fossem necessárias, o governo rapidamente começou a fazer um discurso de que a sua candidatura vai representar um sacrifício da renda e do emprego. O Eduardo Campos ontem, aqui na sabatina, indagado sobre medidas na economia, foi muito cauteloso. O senhor também tem sido cauteloso. Pergunto ao senhor: não há aí um jogo de esconde-esconde do governo e da oposição em relação à economia, que parece ser o principal debate, mas ninguém quer ser claro sobre o que vai fazer. O governo não admite que depois talvez terá que fazer um ajuste. O senhor sinaliza, mas não detalha. Então queria perguntar claramente para o senhor: que meta de superávit primário que o senhor teria, se vai ter algum espaço pra elevar em relação aos 2,5% atual, se a sua política de juros...


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